Entrega ao domícilio

Entregas-me a tua mão, cada linha da sua palma conduz-me até ti, alcanço o teu ombro e aninho-me no teu aconchego, sei que é só no teu abraço que posso ser feliz. Não consigo deixar de pronunciar meu amor sem converter os meus lábios num sorriso arco-íris, quem me olha sabe-me a flutuar. Este sentir fogo-de-artifício devolveu-me ao ninho, entregou-me ao meu domicílio, é quase como se tivesse nascido novamente e és tu o meu útero, o meu domicílio, o meu ninho, restituíste-me a crença neste sentir que me pensava vedado, selado, envolto em arame farpado.
É que desta vez estás mesmo aqui, não és fantasia, és apenas tu e de uma simplicidade demolidora, sem capas ou escudos, sem cartazes de néon ou parangonas nos jornais, apenas tu, entranhando-se em mim lentamente. Ensinas-me todos os dias a sermos um do outro, a velocidade moderada, sem pressas, e vamos saboreando a dois cada momento que sabemos de um tempo sem fim.
Caminhamos de mãos dadas, pelas ruas, à beira rio, ao sabor da maresia, ao fim da tarde, os meus pés sambam e o meu coração balança. Parece-me que tudo à minha volta é tela branca, pronta para ser injectada com todas as cores da paleta, tudo se tatua na flor da minha pele como se da primeira vez se tratasse. O céu nunca fora tão azul, nem a calçada tão geométrica, nem a maresia tão salgada ou a areia tão fina, renasço a cada passo que damos, de mãos dadas.
Puxas o meu corpo miúdo contra o teu e sussurras em silêncio que iremos ser sempre um do outro. Agora sei que não há distância que nos separe por mais longe que estejamos um do outro, que não é preciso dizer que se gosta com as palavras porque são os gestos mudos que o dizem. Com o teu jeito simples, ensinaste-me a amar, secaste as lágrimas e deste sol ao rosto, agora sambo a toda a hora, sorrio sem razão aparente, dou por mim a rabiscar o teu nome no papel, apetece-me gritar bem alto que te amo, amo, amo, que apenas sou porque existes, que me devolveste a mim própria mas sobretudo que és o melhor de mim e digo-o, neste gesto mudo, aquilo que já sabes!

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