António Lobo Antunes disse...

(Quando me falta a inspiração, quando a folha branca é mesmo só isso, branca, recorro às palavras dos outros, a quem parece nunca faltar inspiração e quem, de forma realmente surpreendente, arrebata-me porque numa só frase dizem aquilo em que muito tenho pensado e também porque este escritor é especialmente irreverente e genuinamente insolente!)

Liberdade é ser-se livre numa prisão.

(in Grande Entrevista, RTP1)

Júlio Machado Vaz disse...

Quem não recorda o passado, está condenado a repeti-lo.
(in O Amor é, Antena 1)

Entre mis recuerdos

Não esqueço porque não posso esquecer...
A manhã acorda, nas folhas das árvores pequenas gotas de orvalho reluzentes, espreguiço-me demoradamente na janela, a rua vai despertando com suavidade, as poucas pessoas que a atravessam caminham apressadamente, passo atrás de passo até desaparecem ao dobrar da esquina. Reparo que o tempo não pára, só pára na nossa saudade, nas nossas lembranças e, bastam breves segundos, a equivalente duração de um pestanejar, de um sorriso ou de um acenar, para nos transportar para outros lugares, para outros cheiros, e damos por nós a fixar um ponto no horizonte que não existe mas que serve de trampolim para uma recordação instantânea.
E recordo-nos, de mãos dadas, a sorrir, tu a tacteares-me a pele, e eu a abraçar-te contra o meu corpo, ora com delicadeza, ora com rudeza, como posso eu te esquecer, mesmo se pudesse, não quereria! Enquanto fomos um do outro, nada mais importou, nada mais teve significado, apenas os teus olhos que me viam e me despiam, apenas o teu calor que me abraçava, apenas o teu sabor e cheiro que passaram a ser os meus e, desse tempo que já dobrou a esquina, ficaste tu, parado, entre as minhas recordações, num tempo e num espaço que são absolutamente uno, numa saudades eterna. E vou-me lembrando de ti, a quem não esqueço, sem premeditação, em pequenos momentos do nada, no som dos passos na calçada, no cheiro das castanhas assadas, no mergulho na água fria do mar, na chuva que escorre pelos vidros do carro, nas lágrimas que ensopam o meu rosto...
Viro costas à janela e mergulho no ritual de todos os dias, tenho pressa, pressa para chegar onde nada me aguarda, como o pequeno almoço de um só trago, visto a roupa que vem ao encontro da minha mão, meto chaves no carro e oiço na rádio as notícias do trânsito, porque o tempo persegue-me e eu tento esquivar-me aos minutos que insistem em passar mais depressa do que eu.
Ainda hoje te recordei neste pequeno nada!

Luto

Incómodo é estar-se só.
incómodo é estar-se entre 4 paredes e apenas ouvir a nossa respiração.
Incómodo é não ter com quem se conversar quando se chega a casa.
Incómodo é falar-se sempre no singular e nunca no plural.

Se estou de negro,
é luto pela solidão,
é luto por ter abandonado,
é luto por ter fracassado,
é luto por todos os nós que nunca passaram de tus e eus.

Mas é um luto sem velório,
é uma dor sem sofrimento
é um gostar sem nunca ter amado,
é um incómodo menor do que ter ficado por ficar,
do que ter companhia para evitar a solidão,
do que ter voz para dissimular o silêncio,
do que ser-se um nós no singular.

Não se pode desistir do que nunca se quis ter, pois não!!!


のぞくトム

(Voyeurs)

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時間が過ぎるように

(As time goes by)