Aprendes

Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença, entre a mão e acorrentar uma alma.
E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.
E começas a aprender que beijos não são contratos, presentes não são promessas.
E não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te de vez em quando e precisas perdoá-la por isso. Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais. Descobres que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás pelo resto da vida.
Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que tens na vida, mas quem tens na vida.
Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida, são tiradas de ti muito depressa; por isso, sempre devemos deixar a pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vemos.
Aprendes que paciência requer muita prática. Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não dá o direito de seres cruel.
Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém. Algumas vezes, tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo. Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, tu serás, em algum momento, condenado.
Aprendes que não importa em quantos pedaços teu coração foi partido, o mundo não pára para que o consertes.
E finalmente, aprendes que o tempo não é algo que possa voltar para trás.
Portanto, planta teu jardim, decora tua alma, ao invés de esperar que alguém te traga flores.
E percebes que realmente podes suportar…que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe de pois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor, e que tu tens valor diante da vida.
E só nos faz perder o bem que poderíamos conquistar, o medo de tentar!


W. Shakespeare

Pretéritos Imperfeitos

O teu olhar, reconheço-o todos os dias que já passaram por mim sem ti, com as pestanas a tocarem-se e as pálpebras caídas, lembro a expressão dos teus olhos contida no meu sorriso, cada ruga que conta um sonho, cada erguer de sobrancelha que conta um desejo, cada dilatar de pupila que conta o quanto me sentias. Eras ou ainda és (esta tendência de se falar no pretérito imperfeito de quem já não faz parte da nossa vida, mas desconfio que qualquer pretérito é imperfeito!) arrebatador, envolvias-me no abraço e devolvias-me o teu encantamento. Aprendi tanto junto a ti, vorazmente consumia cada palavra tua, cada pensamento teu e tu divertias-te comigo, é disso que mais intensamente me lembro, da tua gargalhada forte que estremecia a minha quietude, quase em uníssono com a minha.

Como te posso eu esquecer, se cada palavra, cada gesto, foram roubados de ti, por vezes penso que tenho o teu rosto, esses lábios em forma de amêndoa que me sussuravam ternura e dançavam nos meus, depositando os teus sonhos em cada beijo. Não me peças isso, tudo menos isso, para te esquecer, não quero. E tu, será que já me esqueceste, será que se te cruzares comigo na rua vais vacilar em me falar, talvez por nem sequer recordares o meu nome...o teu, reconheço-o constantemente, vejo-o em todo os letreiros, em todas as publicidades, nas figuras geométricas da calçada, toda a gente tem teu nome...até no outro dia, quando me perguntaram como me chamava, inadvertidamente disse o teu nome…

Tenho saudades, muitas, a tua ausência consentida tirou o paladar aos meus dias, sublimaste-lhes o odor, tingiste-os de nada e deixaste o tempo suspenso num instante. Disseste-me para não te lembrar porque as saudades queimam e, não posso deixar de te dar razão, incendiaste-me por dentro, tornaste-te lembrança que não se extingue, que vai inflamando o meu peito de desencantamento.
E continuo a reconhecer o teu olhar, em cada dia que passa por mim sem ti, em cada saudade, que são muitas.

Chamo-te

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que não quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra Em Primavera feroz precipitado.


Sophia de Mello Breyner Andresen


のぞくトム

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