BE quiet


Tenho tido pouca vontade de escrever, talvez por estarmos na “silly season”, talvez por não ter nada de novo para dizer (como se houvesse algo de novo ainda para ser dito??!!!), disciplina também não faz parte das minhas virtudes, por isso relaxo-me mas também não vejo razão para me forçar a escrever, este acto nasce espontanemanente, sem compromissos, sem obrigações, tal e qual como gosto de estar na vida!
Já adoptei outros nomes, idealizei cenários distantes e distintos do meu, mas fui sempre falando de mim, custa-me cada vez mais expor-me, a escrita desnuda-nos perante olhares estranhos, que não conhecemos, mas que acabam por nos conhecer bem.
Não quero deixar de escrever, nem tão pouco pedir desculpas por não o fazer com mais regularidade, mas tive necessidade de me justificar perante mim própria. Ultimamente apago tudo aquilo que escrevo, como se nada tivesse pertinência, humor ou amor suficientes para ficar postado no Mikado e apetece-me ficar assim, num mutismo em nada revelador, esconder-me dos outros, enjaular-me neste branco de som que me conforta, apetece-me o silêncio, limitar-me a ouvir ou ler as palavras dos outros e encerrar um pouco as minhas.

Será!



Será que ainda me resta tempo contigo,
ou já te levam balas de um qualquer inimigo.
Será que soube dar-te tudo o que querias,
ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias.
Será que fiz tudo que podia fazer,
ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer.
Será que lá longe ainda o céu é azul,
ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul.
Será que a tua pele ainda é macia,
ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia.
Será que ainda te posso valer,
ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer.
Será que é de febre este fogo,
este grito cruel que da lebre faz lobo.
Será que amanhã ainda existe para ti,
ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri.
Será que lá fora os carros passam ainda,
ou estrelas caíram e qualquer sorte é benvinda.
Será que a cidade ainda está como dantes
ou cantam fantasmas e bailam gigantes.
Será que o sol se põe do lado do mar,
ou a luz que me agarra é sombra de luar.
Será que as casas cantam e as pedras do chão,
ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão.

Será que sabes que hoje é domingo,
ou os dias não passam, são anjos caindo.
Será que me consegues ouvir
ou é tempo que pedes quando tentas sorrir.
Será que sabes que te trago na voz,
que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós.
Será que te lembras da cor do olhar
quando juntos a noite não quer acabar.
Será que sentes esta mão que te agarra
que te prende com a força do mar contra a barra.
Será que consegues ouvir-me dizer
que te amo tanto quanto noutro dia qualquer.
Eu sei que tu estarás sempre por mim
não há noite sem dia, nem dia sem fim.
Eu sei que me queres, e me amas também
me desejas agora como nunca ninguém.
Não partas então, não me deixes sozinho
Vou beijar o teu chão e chorar o caminho.
Será,
Será,
Será!

(Será, Pedro Abrunhosa, 1996)

Missionárias

Eu e a minha amiga, cujo nome não vou colocar aqui, nem sequer usar um fictício, costumamos falar muitas vezes de amor, da nossa forma de amar, da nossa forma de encarar as situações, as relações e todos os possíveis tópicos, que são quase infinitos, relacionados com o universo amoroso.
A nossa forma de amar é, sem dúvida, um reflexo daquilo que somos, se duvidamos de nós, permitimos que a relação se torne desnivelada, achamos sempre que gostamos mais do que gostam de nós, há quem diga que só nos devemos relacionar afectivamente com pessoas que gostem mais de nós do que nós dela, talvez sim, mas muito mais talvez não! Não podemos ter a pretensão de controlarmos os afectos, de racionalizarmos aquilo que está a ser vaticinado pelas emoções, há que apenas sentir e deixar o sentimento fluir naturalmente, sem travões, sem hesitações, sem contenções, e se sofrermos, e se batermos com a cabeça e chegarmos à conclusão de que foi uma derrota, mais uma, o que interessa é que sentimos, que gostámos, o suficiente ou nem isso, porque tudo é preferível à masmorra da solidão, à condição de quem ninguém nos fará sofrer, porque assim também nunca ninguém nos fará feliz. Qualquer risco de sofrer é aceitável quando está em jogo a nossa felicidade, só seremos feliz se aceitarmos que a inevitabilidade de sofrer faz parte das regras do jogo. E que jogo!
Complicamos, sem dúvida, mas nem sempre os sentimentos são assim tão lineares ou decifráveis, aparecem-nos numa forma subliminar e cabe-nos inferir aquilo que estamos a sentir, há também quem diga que nos apaixonamos pela paixão, pela ilusão que criamos em torno do alvo do nosso afecto, que nos apaixonamos pelo vontade de ter alguém ao nosso lado e que, depois de muito palmilhar (e de se ter beijado muitos sapos), finalmente se encontrou a cara metade. Mas também por vezes apaixonamo-nos por aquela pessoa, não pela paixão, nem pela ilusão, mas simplesmente pela pópria pessoa! Talvez não nos apaixonemos verdadeiramente mais vezes por várias razões: porque fisiologicamente é muito desgastante, porque essencialmente andamos desencontrados uns dos outros ou ainda porque o Cupido que nos foi destinado não prima pelo profissionalismo ou simplesmente porque não tivemos sorte…
Os amores não são descartáveis, desgastam-nos e quando partem levam uma boa soma de nós, não é fácil voltar a amar depois de ter amado intensamente, mas cada um tem o seu período de luto, há quem apenas tenha que carpir umas semanas, outros levam anos, mas é garantido que não amamos uma só vez na vida, isso é um mito a desmistificador, amamos várias vezes apenas nunca amamos da mesma maneira. O facto de irmos mudando ao longo da vida, faz com que a nossa forma de amar também mude, e aceitar a mudança passa, antes de mais, por aceitarmos o nosso caminho, mesmo que seja diferente do de todos os outros ou mesmo que vá contra as nossas convenções, seguir atalhos quando assim for necessário, mas temos que nos aceitar para conseguirmos aceitar um amor maior!
Bom, citando a minha amiga, já chega de lamechices!!!


のぞくトム

(Voyeurs)

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