Aqui e agora

Aqui e agora somos um só, fundidos num único molde entre o bocejo da noite e a valsa da saudade que pesa nos olhos. Esquecemos, por momentos, que somos o crepúsculo de uma manhã esquecida, a espuma que se desfaz na maré baixa.
Aqui e agora somos dormência, suor dissolvido na pele que aromatiza os corpos, somos fogo sereno, cruzado entre dois peitos comprimidos no vazio. Lambo com o olhar a tua pele tingida a açúcar, sinto a textura do tempo nos meus lábios e, por um instante, sussurro sem voz o quanto me desassossegas.
Aqui e agora somos deserto, duna que se cobre de grãos de areia até desaparecer no horizonte. Somos desejo que se diluí num sorriso largado ao relento, num abraço deixado ao acaso, num punhado de nadas contido num beijo.
Aqui e agora somos adeus, costas com costas, sal que desbota o rosto, silêncio que se crava na pele, até um dia destes abafado num até já…cubro o teu corpo ainda quente, guardo na palma da minha mão o teu odor e fecho a porta atrás de mim.

Entropia negativa, contraria-te

Seria tão mais fácil não errarmos, não sofrermos, encontrarmos amor e sabermos logo que era o nosso eterno amor, não despirmos e vestirmos amores, aparentes amores. Sei que errei desta, das outras e sei que vou errar muito mais, porque sinto uma imensa vontade de viver, é quase uma sede que não se sacia, uma oração que não perde fé.
E quem vive, erra, quem ama, erra, quem aprende, erra...
Invejo aqueles que têm um percurso aparentemente linear, que não chumbam de ano, que sabem desde miúdos aquilo que querem ser, que começam a namorar aos 18 e casam aos 25, depois de terminarem o curso. Trabalham numa multinacional e constroem uma carreira de sucesso, têm um carro de sonho, uma vivenda de sonho, uma mulher de sonho, filhos de sonho...e dai talvez inveje muito pouco! Para outros, o trilho não é tão rectilíneo, tem muitas curvas contra curvas, em que resvalam, vão meses para o hospital, perna partida, traumatismo craniano...chumbam, desempregam-se, são despedidos, a namorada troca-os por um colega do trabalho.
Faz parte de nós, se calhar não é erro, somos apenas nós.
Perguntas-me, "mas não será possivel mudar isso? Contrariar a inércia do deixar andar e passar a tomar mais pulso às coisas, nesta nuvem de acasos que é a vida...?"
Respondo-te numa voz que é aparentemente a minha "É uma questão de entropia negativa, contraria-te!"

Sem remetente

Aconteceu-me hoje algo fantástico, enquanto caminhava pela rua ao compasso da minha distracção, quem me conhece sabe que facilmente me distraio porque tudo me encanta, o xadrez das pedras da calçada, o puzzle dos rostos ao virar de cada esquina, os sons e odores que desenham a cidade, e que fazem com que me perca em cada passo que dou. Não querendo correr o risco de me perder nas minhas palavras, continuo aqui a história. Corria uma suave brisa que amaciava o quente da tarde, nela esvoaçava lentamente um papel branco, não percebi o que era e nem sequer liguei muito, até ao momento em que, delicadamente, aterrou o seu voo a meus pés e pude constatar que era um envelope, sem remetente, cujo o destinatário era unicamente Para ti, sem morada ou código postal. Apanhei o envelope, olhei em volta para ver quem era o dono(a) da carta, mas apenas vi rostos cerrados na rotina dos dias de todos os dias. O envelope quase incendiou os meus dedos, estava colado, selado a saliva que outrora beijou o "para ti". Guardei na mala e quando cheguei a casa, sentei-me na minha poltrona e invadi um espaço que não era o meu mas sim de dois amantes, uma carta que não chegou a ser entregue, palavras que não chegaram a ser entranhadas e que agora partilho convosco e que até pode pertencer ou mesmo ser dirigida a um de vós.
Resolvi escrever esta carta para te dizer aquilo que sinto e sinto que simplesmente não te entranhei e que tu, simplesmente, estranhaste aquilo que sou, porque sou aquilo que nunca te pertenceu, apenas te foi concedido partilhar por momentos roubados ao tempo. A soma deste eu e tu acabou por dar resultado ímpar, talvez os céus nunca nos tenham consentido a eternidade, apenas momentos, que serão eternamente nossos, deixando em suspenso aquilo que podíamos ter sido e que nunca seremos.
Rodopiei ao sabor das tuas palavras doces, dancei de pés descalços nos teus castelos no ar, quis acreditar que te podia querer, que te podia ter até os olhos se esvaziarem, encantámo-nos por um nós que nunca chegou a crescer mais do que a palma da mão encerrada num punho fechado. É o amor que nos escolhe, não o contrário...e este amor não nos escolheu!
Lembro-me de te cantarolar uma melodia que brotou espontaneamente da minha voz, porque tudo em mim é genuíno, sou aquilo que te mostrei, sem disfarces ou máscaras, uso e abuso daquilo que sou: "Eu nasci assim Eu cresci assim E sou mesmo assim Vou ser sempre assim Gabriela Sempre Gabriela". Talvez te tenha intimidado por ter sido tão eu, talvez tu me tenhas intimidado por seres tão pouco aquilo que procuro, recolhemo-nos no silêncio dos nossos medos e perdemos algo que nunca nos pertenceu.
Preciso de um amor intenso, de quem se entregue a um sentir enorme, que se embrenhe no meu corpo e deixe os seus dedos entrelaçarem-se nos meus ao som da mesma canção. Preciso de alguém que me precise, que o que nos aproxime seja maior do que aquilo que nos afasta, para quem seja urgente o amor, um beijo, um toque…a eternidade.
Por momentos, preferi estranhar os sinais, tornar-me iletrada, preferi derramar tinta da china por cima dos caracteres e encurralar os sentidos, quis acreditar que o amor ainda é possível em mim, porque não quero nunca deixar de acreditar no amor. Não posso. Não devo.
E porque não gostei de ti o suficiente para te aceitar, e porque não gostei de ti o suficiente para ceder à distância, mas porque gostei de ti o suficiente para terem ficado apenas as boas recordações de momentos subtraídos ao tempo, entrego-te estas minhas palavras, que sempre foi a única coisa que te consegui dar de mim. Sabes, só no teu último adeus é que percebi que realmente não consegues lidar com as despedidas, evitaste os meus olhos, a minha voz, a minha despedida...este teu último adeus disse-me quem eras e que em nada somos iguais. Ofereço-te o adeus que não me concedeste e, porque provavelmente nunca mais nos iremos encontrar, despeço-me pela última vez de quem fora unicamente dono dos meus beijos, por momentos e nunca pela eternidade.
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Vanessa

Koh Samui

Estou quase a embarcar para Bangkok, presentemente no aeroporto desta maravilhosa ilha situada no golfo da tailândia, Koh Samui...estes 10 dias proporcionaram-me um pouco de tudo, em que destaco a simpatia do povo, a paisagem exótica, uma comida ainda mais exótica (não houve uma só vez que soubesse o que estava a comer) e o resto ficará sempre por contar!!!
Um beijo ao dono dos meus beijos por me ter proporcionado esta viagem de sonho.


のぞくトム

(Voyeurs)

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