Quando um Homem Quiser

Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher


Ary dos Santos

Poente

Dá-me o teu poente,
enrola-me no teu abraço e aconchega-me.
Aninha-me no teu sorriso
e ampara esta lágrima que se verte.

Serás lembrança perante o esquecimento,
Serás âncora quando desembarcar,
Serás refúgio quando me abandonar,
Serás aconchego perante a ausência.

Finge ser poeta,
amarra as minhas palavras às tuas.
Cobre o meu rosto,
com o toque ameno da tua pele.

Ensina-me,
a voar para além do meu horizonte.
Ensina-me,
a acreditar para além do meu desespero.
Ensina-me,
a amar para além do meu amar
Ensina-me,
a chegar ao teu poente…


A todos os que acham que vão ser ainda mais felizes do que esperam!

Ponto final parágrafo

O tempo passa por mim e quase não lhe sinto o toque, andamos lado a lado e constantemente desencontramo-nos, estou sempre demasiado absorvida com pequenos nadas para lhe prestar atenção. “Olha, afinal não posso ir, estou muito ocupada”, “Desculpa não ter comparecido, mas ando cheia de trabalho!”, expressões que os outros me ensinaram a ouvir e que, com o compasso do tempo, as foi adoptando como minhas, ponto final parágrafo.
E assim vão passando horas, dias, meses e apenas temos tempo para ir no trânsito de Lisboa-Mem Martins e de Mem Martins-Lisboa, a desgastarmo-nos em filas que parecem adormecidas ao longo da IC19. Esquecemo-nos das promessas que fizemos, de que a nossa vida nunca iria ser assim, espartilhada entre quatro paredes, consumida das 9h00 às 17h30 por gente sem vida, cinzenta por apenas saber sentir inveja dos poucos a quem ainda lhes resta cor. Usamos mais a palavra colegas que amigos, escrevemos minutas e não cartas de amor e construímos frases sintéticas “Serve a presente”, “Vimos por este meio”, “Aguarda-se parecer superior sobre assunto em epígrafe”, fazendo duvidar de que ainda sabemos escrever frases como “Gosto tanto de gostar de ti”, “Tenho tantas saudades tuas”, “Beijinhos e muitos abraços”, ponto final parágrafo.
O que é isso de topo da progressão de carreira…chegar ao grau 5 do escalão 10? Não, para mim é mergulhar numa viagem pela América do Sul, de mochila às costas, sem dia de regresso, apenas com a promessa de nos deslumbrarmos e voltarmos a deslumbrar. O infinito passou a ser finito, o horizonte a ser delimitado, tudo tem nomes, nada são coisas, preenchemos o vazio com nomes e esperamos que um qualquer chefe reconheça o nosso esforço e dedicação e nos promova. Vamos perdendo o essencial, tornámo-nos numa pastilha elástica que mascamos vezes sem conta, até lhe perdermos o gosto. Vamos adquirindo bens, adornamo-nos de acessórios, de sonhos fúteis, iguais ao de todas as outras pessoas, ao mesmo tempo que perdemos em identidade, deixamos de sonhar os nossos sonhos, a palavra sonho passa a ser mais um acessórios descartável, ponto final parágrafo.
…mas o tempo que eu não deixo passar, aquele que paga portagem, dá nome aos meus sonhos e faz com que continue à procura de uma mochila suficientemente grande para meter o meu infinito fim e partir de viagem, sem dia de regresso, ponto final parágrafo.


のぞくトム

(Voyeurs)

Free Web Site Counter

時間が過ぎるように

(As time goes by)