Post de despedida

Ultimamente tenho pensado várias vezes em encerrar o Mikado, já fiz um sem número de tentativas que falharam, um sem fim de rascunhos que foram rasgados e deitados fora, todos me pareceram demasiado escassos para traduzir o que realmente vai no meu contentor mental, demasiado inábeis para serem as minhas últimas palavras num projecto de vida com mais de um ano. Todos os dias adio por mais uns dias esta ruptura, talvez por este blog ter tanto de mim que se torna assustador encerrar-me quando já disse tanto e quando sinto que ainda tenho tanto para dizer. Não sei porque escolhi este dia para o fazer, nem porque optei por estas palavras e não outras, sinto que desde algum tempo que me contrario em cada palavra que imprimo num texto, este desfecho é quase como oxigenar um peito asfixiado, como libertar as mãos algemadas, como soltar o espartilho de um olhar embaciado…

Sempre encarei a escrita na sua componente mais lúdica e como este compromisso estava a perder em entretenimento e a ganhar em seriedade, obriguei-me a parar o seu envelhecimento precoce e a impedir a sua continuidade. Tenho aprendido que o meu tempo não tem tempo para parar e porque esta minha necessidade de escrever é intemporal, eterna concubina, quero pensar que nada fica encerrado neste parágrafo. Não quero mais falar em desamor, este tema tornou-se uma constante nos meus posts, quase me levou a acreditar que qualquer forma de amor está condenada ao desencantamento, que o ser humano está em déficit para com o amor e eu não quero porque não posso acreditar que o amor morreu em mim. Esta pele tem de ser despida, quero vestir uma nova pele e continuar a desnudar-me, talvez noutro formato, com outras cores, certamente com outras palavras e noutro ritmo, Movin’ on Up!

Por todas estas razões, opto pelo fim, retiro-me de cena para dançar de pés nus num palco sem plateia, para gritar até a voz enrouquecer sem que alguém me oiça, para riscar todas as folhas brancas sem traçar sequer uma palavra, quero momentaneamente deixar de me descrever, permanecer em silêncio, congelar os meus dedos e trancar o confessionário. O pano cai neste espectáculo, levo a minha nudez comigo, renuncio aos olhares atentos de uma audiência invisual, liberto as minhas asas e num voo picado desloco-me para lá dos limites da imaginação. Tudo o que fica para trás é um esboço a carvão que vai sendo tingido a cores da vida na tela do dia de cada dia.

Por isso encerro-me, aqui e agora, pois não consigo ficar indiferente a esta inquietação, limito-me a seguir o meu registo de sempre, afastando-me do que me perturba e ausentando-me para a outra versão de mim, esperando tropeçar no rumo mais certo para a minha escrita. E desde já proíbo-me de prometer, porque as promessas são quase sempre ilusórias, que nunca mais voltarei a publicar ou então o contrário, de que voltarei a escrever no Mikado, prefiro nada dizer talvez por não me conformar com a irreversibilidade das coisas, por querer acreditar que nada tem apenas um único sentido.

Agradeço a todos aqueles que perderam algum do seu tempo e dedicaram-no a ler-me, agradeço a todos aqueles que me inspiraram, àqueles que me incentivaram, àqueles que me criticaram e aos que me elogiaram, despeço-me de todos os amores e desamores que me morreram nos braços, todos ficarão guardados num coração que continua à procura de si próprio, encerrando umas portas e abrindo umas janelas vista mar.

Adeus,
Mikado


のぞくトム

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