Quem morre?

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos. Quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre Lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeções e sentimentos.
Morre lentamente quem se casa com a beleza, quem se enamora com o dinheiro, deixando de parte a cumplicidade e o verdadeiro amor.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho; quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda

Sabes

Sabes que ainda tenho saudades tuas
Que ainda deixo entreaberta
a janela com sabor a mar.
Que ainda guardo o teu cheiro
aprisionado numa redoma de ti.
Que ainda oiço o dedilhar
da tua voz no canto da sala.

Sabes como é sentir saudades…?
É ainda rodopiar na teia das tuas palavras,
e ouvir silêncios de nadas…
É ainda sentir o gosto do amor,
e saboreá-lo como areia entre as mãos.

A boca que outrora te beijou,
seca a saliva.
Os dedos que outrora adoçaram a tua pele,
adormecem.
O peito que outrora era irrupção
mostra a sua nudez,
bate oco,
vazio…

As noites que amanhecem
são sopro de nada contra o tempo
…iguais a todas as outras noites.

Os dias que anoitecem
são brilho do crescente da lua
que se confundem com os teus olhos
…iguais a todos os outros dias.

Sabes que apenas sei sentir saudades…
sabes, daquilo que nunca me conseguiste dar…

Meu amor meu amor

Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.
Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.


Ary dos Santos


のぞくトム

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