Lembrei-te

Já não me lembro bem do teu sabor, do teu toque, da suave aragem dos teus sussurros. Dou por mim a esquecer-te, inadvertidamente, tento lembrar-te mas a distância tende a desfocar e a empalidecer lembranças que outrora foram garridas e nítidas, a esquecer quem um dia foi pensado inesquecível...
Lembro-me de um dia de Verão, do ondular do calor no horizonte, de sorrisos a dançarem nos rostos a um ritmo morno. Íamos de carro, para a praia, a estrada estava ladeada de sobreiros, que deixavam passar a luz por entre os ramos, recortando a estrada numa espécie de cenário de sombras chinesas. Naquele momento, apenas naquela breve passagem do tempo, pensei que iríamos ser um do outro para sempre, que iríamos passar por aquela estrada um sem fim de vezes, pensei que as lembranças iriam ser substituídas por novas lembranças, que seríamos eternamente um só. Mas fomos apenas para sempre naquele momento, fugaz, resgatado ao tempo, num ápice evaporamo-nos e a eternidade perdeu-se por entre as sombras recortadas, incinerámo-nos e transformámo-nos em pó.
E agora recordo-te vagamente, numa recordação que arrasta a memória de um sentimento diluído, difuso. Lembrei-te ao passar por essa mesma estrada, a caminho da praia, acompanhada por um outro alguém que deixará também a memória vazia de um nós. Aquela paisagem serviu de catalizador a uma lembrança arrumada, a um para sempre esquecido, guardado numa recordação míope, insonorizada, a qual a distância se encarregou de lhe retirar o sabor, o toque, a suave aragem dos sussurros mas de a guarnecer de uma saudade de quem foi eterno apenas por um breve momento.

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Álvaro de Campo,
Tabacaria


のぞくトム

(Voyeurs)

Free Web Site Counter

時間が過ぎるように

(As time goes by)