Restos

E quando já não houver nós,
o que farei eu com esta imensidão,
reciclo-a e transformo-a num nada?

O que serei eu sem ti?
O que seremos nós sem nós?
Uma estrela cadente,
um bocejo,
um sonho vazio,
um arrepio,
uma lágrima doce
que amarga na boca.
Seremos tudo isto
e menos ainda.

Retiro o que há de ti em mim,
seco o sal, o teu,
que ainda resta na minha pele,
escondo a luz, a tua,
que ainda resta no meu olhar,
calo a voz, a tua,
que ainda resta nas minhas palavras!

Silencio-nos,
resta-me tão pouco…
…ser o que já não sei ser sem ti!

Rascunho

Destapo o bule de chá e de imediato sinto o aroma a hortelã-pimenta a invadir-me, o meu olfacto sorri. Insisto contigo em te servir o chá, verto a água morna de tons dourados na tua chávena, branca com pinceladas de azul esbatido, parecendo pássaros que voam para longe, muito longe.
Várias vezes levas a mão ao cabelo, aparentemente para domar uma madeixa que insiste em cair sobre a tua testa, deixas transparecer algum nervosismo, sentir-te-ás desconfortável, ali, naquela sala, ao pé de mim, onde estamos só nós os dois?
Por detrás da janela, o céu insiste em cobrir-se de nuvens cinzentas, que vão desenhando formas engraçadas, sustêm a respiração ao ponto de parecerem que vão rebentar a qualquer momento. Dizes qualquer coisa que não percebo, aceno com a cabeça e esboço um ligeiro sorriso, insisto em não te compreender.
Enquanto o chá fumega nas chávenas, brinco com um papel entre as minhas mãos, é um poema que quero que tu leias, não quero chamá-lo poema, parece um tanto ou quanto pretensioso, chamo-o antes rascunho. Tudo o que escrevo parece-me sempre um rascunho, na iminência de ser vigorosamente rasgado, mutilo-me sempre que rasgo o que escrevo mas não consigo deixar de rasgar, porque são sempre rascunhos.
Acho que há pouco disseste qualquer coisa sobre o chá, que estava saboroso ou então sobre o tempo que estava desagradável, não tenho a certeza mas soou-me parecido. Num ímpeto, entrego-te o papel, o rascunho, desdobras calmamente e começas a ler, sinto um calor imenso a percorrer-me o corpo, desemboca em gotas de suor que cobrem as palmas das minhas mãos.
Não vejo expressão no teu olhar, os teus lábios permanecem intactos, uma vez mais levas a mão ao cabelo, terminas, voltas a dobrar o papel, insistes em fazer uma pausa antes de começares a falar, novamente não percebo o que dizes, soa-me a algo como falta-lhe métrica ou cerebral ou uso de lugares comuns e finalizas o teu discurso imperceptível perguntando se falo de alguém naquele poema, corrijo-te e digo, poema não, rascunho.
Começa a trovejar violentamente, os vidros são fustigados por uma chuva que vocifera bem alto, levantas-te apressado, dizes que ainda tens muito que fazer, agradeces a companhia, acentuas em tom dramático, a boa companhia. Corro para te abrir a porta e vou rasgando aos poucos o papel que me devolveste, o beijo despede-se antes de eu me despedir de ti - Fala de ti, o poema, meu amor, de ti...

Sem tí...tulo

Não interessa…
os caminhos que percorrermos,
porque todos parecerão um só.

Não interessa…
os paladares que saborearmos,
porque todos saberão a nada.

Não interessa…
as melodias que ouvirmos,
porque todas soarão a silêncio.

Os desenhos serão telas brancas…
Os sorrisos serão lábios fechados…
Os dias serão folhas de Outono…

Não interessa…
sem ti…
…nada interessa!


のぞくトム

(Voyeurs)

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