Aqui!

Dizem para te esquecer,
para te afogar em alto mar,
para te cortar a respiração num último beijo.
Mas mesmo assim continuo aqui…

Dizem que és sorriso à deriva,
sem porto de abrigo.
Que sou cadáver no teu olhar,
como marioneta sem fios.
Que somos ponto final parágrafo
de sabor a amargo ferrugem,
a destilar,
a ferir,
a queimar.
Mas mesmo assim continuo aqui...

Dizem que não me amas,
que nunca me amaste,
que não queres, nem sabes amar.
Que o teu amor é como gin tónico,
que no último golo
derrama ácido na boca,
destila a saliva,
amarga o palato.
Mas mesmo assim continuo aqui...

Cospes-me um olhar
de azul sem céu,
de âncora sem embarcação.
Sacodes-te do meu corpo
como orgasmo fingido.

Queria ter menos saudades tuas,
apagar o teu cheiro da minha memória
esquecer o teu nome da minha voz
secar o sal que asfixia
Mas mesmo assim continuo aqui!

Soco

Mais um risco no teu vinil.
Mais um quarto escuro, transpirado.
Mais um poema falso,
desmaiado na rima,
destoado no ritmo
desencontrado na forma.

Ultima-se o último momento
num passo interrompido,
num adeus sem mão,
num golo de água salobra,
num bocejo taciturno.

Mais um poema falso,
oco,
de versos estripados,
humedecido pela língua,
embebido em escuridão

[Sou]

Saco de areia grossa que se esmurra.
Gato em gaiola de pássaro.
Beijo sangrado,
estancado pelo soco.

[És]

Pulso encurralado no rosto.
Sorriso escurecido nos olhos.
Palavras amarrotadas nos lábios.

[Somos]

Tempo que enruga a pele.
Esporas que rasgam a voz.
Poesia fácil, estéril.
Freio que encerra a boca.
Palavra esventrada entre os dedos.
Momento que se quer último,
em quarto minguante.

[Nunca fomos!]

Guerreiras

Amiga:

Tenho pensado nisto ultimamente, pergunto-me o que terás realmente a perder em ires ao encontro dele, perdes em orgulho, ganhas em rejeição??? E dai, de que vale o orgulho se te mortificas sempre que queres estar com ele e te impedes, sempre que sufocas o desejo que continua vivo apesar de todos estes anos que passaram. Antecipar a rejeição não é viver, é simplesmente acobardar-se e ficar recolhido no ninho, longe das dores, das angústias, dos nãos, mas igualmente longe das alegrias e dos sins. Tens de encarar esta situação com uma sensação de invencibilidade, sentires que não tens nada a perder que, pelo contrário, tens mais a ganhar se lutares, do que se baixares os braços sem nunca sequer teres empunhado a espada. Esgota todas as possibilidades, salta por cima dos obstáculos que te forem colocados à frente, escolhe um outro trilho se aquele que escolheste for barrado, convida-o para um jantar, se ele não puder, combina um café, se não lhe apetecer naquele dia, telefona-lhe apenas para ouvir a sua voz…Mas só depois de consumidas todas as hipóteses é que te podes retirar do campo de batalha, com todas as tuas tropas e armamento e vais sair exausta mas de cabeça erguida!
Realmente é tão fácil dizer isto aos outros, é sempre muito mais fácil saber como agir quando se está confortavelmente sentado na plateia do para quem está na mira das luzes, à frente do pano, nua perante os olhares. Mas não consigo deixar de te dizer para não desistires, para persistires e desafiares a maior de todas as adversidades, os teus próprios medos. Tens obrigação para contigo em lutares por algo que queres, exclusivamente para contigo, até porque alguém até há bem pouco tempo me dizia, que tanto se sofre dando muito como dando quase nada. Num mundo perfeito, as pessoas encaixar-se-iam naturalmente umas nas outras, sem existirem dúvidas ou receios, sem se ter que travar batalhas, mas neste nosso mundo complexo as coisas não são assim tão fáceis, por vezes tem que se lutar para se ter, mesmo que isso signifique que se perca em seguida…
Por isso, amiga do coração, excede-te, ousa, desafia-te, compra aquela roupa que achas demasiado excêntrica, telefona-lhe sempre que te apetecer, diz-lhe de uma forma surda o quanto ele é especial e importante na tua vida mas não deixes de empunhar a espada! E, se ao fim e ao cabo, esse alguém não te quiser ganhar e o teu coração estilhaçar-se em mil pedaços, só tens que pacientemente colar cada estilhaço, lamber as feridas até cicatrizarem, até porque eu estarei do lado de cá para te dar colo e para te fazer lembrar que és invencível e que nunca se perde quando alguém não nos quer ganhar!


SusanaT

P.s.: E porque os afectos têm mais a ver com somas do que com subtracções, recorda-me de quando em vez destas minhas palavras...


のぞくトム

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