Teresinha

Chico Buarque
1977-1978
Cara Nova (Arlequim)

Eternizado pela voz de Maria Bethania



O primeiro me chegou
Como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia
Trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio
Me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada
Que tocou meu coração
Mas não me negava nada
E, assustada eu disse não


O segundo me chegou
Como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar
Indagou meu passado
E cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta
Me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada
Que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse não


O terceiro me chegou
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada
Também nada perguntou
Mal sei como ele se chama
Mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração.


Nota:
Regressei dia 25 de Abril do Brasil, esse pais tão intenso quanto imenso, o distanciamento durou apenas uma semana mas permitiu-me recarregar baterias. Antes de me ir embora uma amiga amiga ofereceu-me este poema de Chico Buarque para publicar, o qual lhe devolvo neste momento.

Escrevo o teu amor

Num dia de sol, em que o céu brilhava num azul de oceano, estava sentado numa esplanada, o perfil do seu corpo recostado contra o assento de palhinha da cadeira, o seu nariz captava os tons de todos os cheiros e os olhos permaneciam tranquilamente encerrados em si próprios. Sentia cada raio de tons dourados a adorar a sua pele, não sabia se havia pessoas à sua volta, talvez soubesse, pelo sussurro distante das suas vozes. As suas mãos pendiam sobre o corpo inerte e um sorriso marcava-lhe a expressão do olhar, lembrava-se de cada palavra que ela lhe dissera, do doce sabor de cada sílaba, de cada vogal, dos contornos do amor a serpentear na sua boca, nunca ninguém lhe dissera algo igual, nunca ninguém o sentira daquela forma, tão intensa, tão apaixonada. As palavras soltas rodopiavam no seu pensamento, nunca pensara que o amor fosse algo fácil, nem sequer próximo, ela fizera-o descobrir esse amor em si e descobrira-o ao alcance de um toque, na proximidade de um beijo, no calor de um silêncio. Sorrira novamente, ajeitando o seu corpo alto na cadeira, queria aprisionar aquele momento, eternizar o paladar de todas as palavras de amor proferidas pela sua voz, de todos os sentires que ela lhe oferecera, sem pedir nada em troca, de cada pensar, de todos os pensares que se abateram sobre o seu peito. Ainda sentia no seu corpo a efervescência do afago, suave como um campo de papoilas que ondula ao ritmo da brisa do vento, a adoçar a sua pele outrora crispada como um mar revolto.
Não sabes quem sou, nem sequer sei quem tu és, estava precisamente sentada ao teu lado, quando te olhei casualmente e captei este momento, vi amor na inércia do teu corpo, no sorriso tranquilo dos teus lábios, agarrei a intensidade do sentimento que estava naquele momento a latejar no todo de ti. E, sem me dizeres, porque nem sequer reparaste em mim e porque os teus lábios limitaram-se ao mutismo de um sorriso, que disse tudo o que a voz não permitiu, escrevi todos os teus sentires, todos os teus pensares e eternizei-os por ti, nesta folha de papel.
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Nota de rodapé
Pediram-me para dedicar este post, dedico-o a todos aqueles que estão, neste preciso momento, a sentirem-se assim.

Todo o tempo do mundo será pouco para te amar

Recordo-nos assim, com um sorriso açucarado a adoçar os lábios, com as mãos pousadas uma sobre a outra, do amanhecer entrelaçado dos corpos, do teu olhar a fundir-se nos meus olhos, de nós, num abraço dos sentidos…deixa-me nunca esquecer estes dias de todos os dias.
Todo o tempo do mundo será pouco para te amar.
Como se fosse hoje, lembro a primeira vez que te vi, em que o meu olhar dançou no teu espanto, em que rodopiámos sobre os nossos pés descalços, em que o peito disparou incontáveis batimentos, quase não falei, quase não gesticulei, quis armazenar na retina da minha memória o nosso primeiro momento.
Todo o tempo do mundo será pouco para te amar.
Lembro-me de ti assim, como uma extensão do meu corpo, como um grito em sussurro, a afogares os meus lábios num beijo e sempre, a teu lado, soube porque existia, entranhaste-te em mim como um floco de neve em pleno Agosto, como pétala que cai, de mansinho, no silêncio da noite.
Todo o tempo do mundo será pouco para te amar.
Querer-te, é somente pouco, ter-te a meu lado, não é suficientemente perto…deixa o crepúsculo escurecer no regaço do meu afecto, deixa a pele eriçar-se em cada toque que te ofereço, deixa o meu corpo beber o sal da tua pele, deixa as minhas mãos submergirem no teu suor…apenas deixa.
E porque te amo em contagem crescente e porque o beijo renova-se em cada dia que encerra e porque a tua essência é o meu oxigénio, todo o amor será pouco, porque não temos todo o tempo do mundo!


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