Wanna be my babe?

Já há algum tempo que ando à procura de casa, não sou muito exigente, quero apenas sentir aquele primeiro impacto ao entrar, aquele arrepio na pele como quando sabemos, através de um só olhar, que algo nos pertence, como quando o vendedor, depois de muito catequizar Encontrei a casa ideal para si, que seja mesmo aquela casa, a minha. Mas ultimamente, sempre que o vendedor, de sorriso embutido de branco, abre a porta, o peito pára, entro em sobressalto e nada me agrada, os azulejos com flores marron no hall, o papel de parede do quarto num delírio entre o azul eléctrico e o verde alface, já para não falar da casa de banho, com tantos rebordos dourados que turvam a vista.
Tínhamos um casa linda, pelo menos era o que toda a gente dizia, era antiga mas com persistência fizemos as obras possíveis para ambientá-la às nossas necessidades. A maior parte das obras fizemo-las nós, vestimos uns jeans esfarrapados e umas t-shirts velhas (a tua dizia, I Love Kadoc e a minha, lilás com letras douradas, tinha inscrito Wanna be my babe?) e improvisámos acordes no chão, quando resolvemos afagar e envernizar, nas paredes, quando estucámos e pintámos. Houve uma vez que cobri o teu braço de gesso enquanto dormias, fartámo-nos de rir depois de me dizeres que eu era uma criança grande, assinei no gesso, antes de tu o arrancares, Esta será a casa dos nossos sonhos!. Sorríamos constantemente, lembro-me de quando agarraste o meu corpo e o projectaste delicadamente para cima dos plásticos que cobriam o chão, saboreaste profundamente a cor dos meus olhos, beijaste o meu pescoço, acariciaste o meu peito, a mão deslizou até ao meu sexo e penetraste-me até os nossos corpos adormecerem exaustos.
Acordei em ser eu a sair da casa, porque todos os recantos me fariam recordar-te, todos os recortes por nós projectados seriam demasiado presentes para eu te sobreviver. Aluguei uma casa na margem sul, a janela da sala permitia-me saborear um traço de mar, que o olhar vazio emoldurava como tela a perder a sua aguarela. Nunca fiz qualquer mudança, as mobílias ficaram no mesmo sítio, as paredes da mesma cor, o chão com a mesma carpete, sempre me senti nesta casa como um hóspede. Continuei à procura da casa dos meus sonhos, como também continuei à procura de uma fórmula para te esquecer, mas todas as minhas tentativas, tanto para encontrar a casa como para te esquecer, tornavam-se sempre estéreis.
Hoje o dia tinha amanhecido de orelha murcha, logo pela manhã recebo o telefonema de um vendedor de uma qualquer imobiliária, do outro lado alguém pronuncia a frase feita e combinamos encontrar-nos na rotunda, por baixo do Café Central e por cima da Escola Secundária, por volta das 17h30. Cheguei um pouco atrasada, por causa do trânsito ou por causa da minha frequente distracção com as horas, estacionei o meu carro e seguimos no seu, vasculhava na minha mala de executiva o mail que o vendedor me tinha enviado com as características das casa, encontrei todos menos aquele. Sinto o carro a parar e oiço dizer de forma esfusiante, Chegámos!. Quando levantei os olhos, senti as minhas pernas a tremerem, um nó a comprimir a garganta, subimos as escadas do prédio e, de sorriso colado aos lábios, o vendedor abre-me a porta da casa, O dono quis-se desfazer da casa, disse-me que já não servia aos seus sonhos, não cheguei a perceber porquê!, desta vez acertara, era a casa dos meus sonhos, despojadas dos sonhos que tinham sido nossos…

4 Responses to “Wanna be my babe?”

  1. # Blogger Rubim

    :)

    bj  

  2. # Anonymous Anónimo

    como é facil viajar nas tuas palavras... 1 espanto ! bjo pink  

  3. # Anonymous Anónimo

    I Lobe u!
    Vizinha, mais cedo ou mais tarde vais encontrar a casa dos teus sonhos...
    Lembras-te quando encontramos a minha? Meio caminho andado para o encontro de NOVOS sonhos. Entropia negativa, contraria-te!
    Bjs  

  4. # Blogger Mikado

    CA: Sabe bem quando as palavras dos outros nos deixam mudos!

    Papa_figos: Continua a sorrir assim

    Anónimo: Espanta-te sempre que algo te deslumbrar, sempre que uma palavra se soltar de um sentir, sempre que no céu brilhe azul. Um beijo para ti, anónimo com um C. (Think Pink)

    Guix: I Lobe u2!
    Pois é vizinha, os sonhos vão-se renovando, sempre que os pés avancem, sempre que as pupilas se dilatam, sempre que as asas se desdobram num voo mais longo...resta-nos reciclar os sonhos antigos e transformá-los em novos sonhos  

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