Aqui e agora

Aqui e agora somos um só, fundidos num único molde entre o bocejo da noite e a valsa da saudade que pesa nos olhos. Esquecemos, por momentos, que somos o crepúsculo de uma manhã esquecida, a espuma que se desfaz na maré baixa.
Aqui e agora somos dormência, suor dissolvido na pele que aromatiza os corpos, somos fogo sereno, cruzado entre dois peitos comprimidos no vazio. Lambo com o olhar a tua pele tingida a açúcar, sinto a textura do tempo nos meus lábios e, por um instante, sussurro sem voz o quanto me desassossegas.
Aqui e agora somos deserto, duna que se cobre de grãos de areia até desaparecer no horizonte. Somos desejo que se diluí num sorriso largado ao relento, num abraço deixado ao acaso, num punhado de nadas contido num beijo.
Aqui e agora somos adeus, costas com costas, sal que desbota o rosto, silêncio que se crava na pele, até um dia destes abafado num até já…cubro o teu corpo ainda quente, guardo na palma da minha mão o teu odor e fecho a porta atrás de mim.

3 Responses to “Aqui e agora”

  1. # Anonymous Anónimo

    Mikado,profundamente marcante. Ficção ou "1 até já"...bjo C.  

  2. # Anonymous Anónimo

    Gostei muito, muito mesmo!
    Acontece por vezes ficarmos presos à ilusão de um momento...
    A questão é: Será que nos queremos libertar desta ilusão “um dia destes”, ou será que pura e simplesmente a alimentamos com "um até já"...sendo que a segunda opção é uma consequência da primeira!
    Difícil não é? Aqui e agora!

    Bjs mil :) Madr.  

  3. # Blogger Sandro

    ... e eu vejo-te as costas e ouço os teus passos hesitantes, mas decididos. Lanço-te um ultímo olhar na expectativa de que os meus olhos se reflictam nos teus, e o teu "até já" se transforme num "fico mais um pouco"...
    Mas será sempre e só "mais um pouco", porque assim o quer a vontade, o próprio querer em si. Quero-te! Quero-te numa noite de maior lividez, em que o negro da noite se cubra de estrelas mil, e em que a lua te ilumine o corpo despido de quaisquer barreiras às minhas mãos que te anseiam.
    Mas não... Manténs o passo em direcção a um amanhã já longe de mim.
    Um amanhã em que já não te vou sentir... Mas hoje, agora?... Agora queria-te aqui!  

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