Crónicas de hortelã-pimenta

Tirou o quadro que estava pendurado na parede e limitou-se a encostá-lo a uma outra que recentemente pintara de vermelho sangue de boi. Não queria fazer mais buracos na parede, queria mantê-la intacta, não queria deixar cicatrizes permanentes nos pilares do seu lar. Ultimamente sentia-se como que num processo de mutação lento, quase surdo, que paulatinamente se instalara no corpo sem o seu consentimento, começando a deixar vestígios microscópicos da sua passagem, enrugando a tez, esbranquiçando o cabelo, avivando a suposta sapiência.
Estava a reflorestar o seu pequeno apartamento, precisava da natureza perto de si, sentir o verde dentro de uma urbanidade asfaltada, mas isso criava-lhe sentimentos contraditórios, não gostava de aprisionar plantas dentro de espaços exíguos apenas para seu regozijo. Mas naquele momento não podia permitir-se tais elevações, agia impulsivamente, descartava-se da reflexividade que desde sempre lhe restringira o seu raid de acção e limitava-se a agir por agir.
Estava a pensar ter um canteiro de ervas aromáticas, poejo aconselharam-lhe algumas pessoas, boa para chá e para fritar peixe em azeite aromatizado com esta erva, também hortelã-pimenta, coentros e salsa. Estava a reaprender-se…

1 Responses to “Crónicas de hortelã-pimenta”

  1. # Anonymous Anónimo

    Andas a reaprender-te?  

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