Pronuncio de morte

Sem nos apercebermos, sem sequer darmos conta, afastamos tudo o que tenha a ver com a temática morte, cobrimo-la com panos espessos e opacos, tentamos desmistificá-la, ignorá-la, evitamos pronunciá-la com receio que se lembre de nós. Mas apesar das infindáveis tentativas de a esquecermos, essa palavra impronunciável agride-nos, esbofeteia-nos - numa estrada, numa notícia, um parente afastado, um parente próximo, o pai de uma amiga nossa que tem exactamente a mesma idade do nosso pai.
Assustamo-nos, telefonamos a essa nossa amiga e sentimos medo na sua voz, deparamo-nos com perdas irrecuperáveis, com raízes que se vão perdendo, as referências que vão ficando cada vez mais distantes. A queda é equivalente a um salto de um prédio de 20 andares, em que o peito é comprimido, falta-nos oxigénio, não conseguimos respirar, choramos por dentro e lamentamos por fora e mais uma vez o tempo é a rede que ampara essa angústia quase interminável.
E enquanto nos cobrimos de luto, enquanto a morte se entranha em nós como terra nas unhas, enquanto carpimos pelo desaparecimento de alguém que nos deixou como herança a saudade, somos seres temerosos, estamos tão perto do significado da vida quanto de Deus.

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