Da tua mulher

Ainda anteontem, quando menos esperavas, esperava-te à janela, corri para abrir a porta da entrada do prédio, fiquei com a mão presa no trinco da porta da nossa casa, da minha casa (dizias que não a sentias como tua, mas mesmo assim eu segredava a mim própria que era nossa casa) para afagar o teu corpo cansado…mas afastaste o meu abraço. Sentaste-te no sofá (que eu dizia que era o teu sofá), pesado, tirei-te os sapatos, massajei-te os pés, pediste-me para pôr água a correr na banheira para o teu banho.
Ainda ontem, peguei no telefone uma série de vezes para te dar um beijo ou apenas para ouvir o eco da tua voz a estremecer o meu coração…mas não atendeste. Quando chegaste à minha casa, disseste que tinhas estado muito ocupado, foste pôr a água do banho a correr e jantámos, eu a ver a novela e tu a veres o telejornal.
Hoje ainda não tive tempo para quase nada, tenho andado tão ocupada com a lida da casa, ouvi o telefone a tocar umas quantas vezes mas nunca fui a tempo de atender. É verdade, Vou ao cinema ver aquele filme, que estreou há duas semanas (lembraste, aquele que te estava sempre a dizer que queria ir ver mas tu dizias-me que estavas demasiado cansado e que provavelmente adormecerias) com a Alice e a Carmo, tens o jantar no forno, se quiseres aquece-lo bastam 5 minutos para ficar pronto. Espero que ainda estejas acordado quando chegar (senão estiveres não te preocupes, eu percebo, tens muitas preocupações no teu emprego, aliás já estou habituada, adormeces sempre no sofá depois do jornal), beijos da tua mulher.

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